terça-feira, 14 de setembro de 2010

“+ Direito à Memória” ( Mário Chagas)

No mundo contemporâneo vive-se a experiência de uma “vontade de memória e de patrimônio” generalizadas e de uma “vontade de museu” que gradualmente se amplia, ainda que mantenha as especificidades e particularidades de cada experiência concreta. Essas vontades (ou desejos) de memória e de patrimônio não são uma exclusividade do mundo contemporâneo; em diferentes grupos sociais e em diferentes épocas podemos percebê-las e identificá-las.

De algum modo, a vontade de memória se materializa, entre outras possibilidades, como vontade de patrimônio e vontade de museu. A vontade de museu no Brasil, por exemplo, mesmo tendo raízes lançadas no século XIX, desenvolveu-se de modo notável no século XX, iniciado com 10 museus e finalizado com mais de 2 mil museus. Hoje existem no Brasil em torno de 2.700 museus, sendo que o grande aumento numérico ocorreu a partir da Segunda Guerra Mundial, ou, mais precisamente, a partir da segunda metade do século XX.

Ainda que as vontades de memória, de patrimônio e de museu não sejam exclusividades da contemporaneidade, na atualidade elas ganham uma dimensão especial, em virtude de seu vínculo com o campo da comunicação e da política. Memória, patrimônio e museu acionam possibilidades comunicativas e estéticas, e também possibilidades políticas. De outro modo: projetos poéticos e políticos distintos e muitas vezes conflitantes são acionados por diferentes vontades de memória, de patrimônio e de museu. Por esse caminho, pode-se compreender o quanto há de tensão e de disputa no exercício do direito à memória, ao patrimônio e ao museu.

A vontade de memória não se materializa automaticamente como um direito à memória. Não é dado, à partida, que a vontade de patrimônio se expresse como um direito ao patrimônio, nem que a vontade de museu se expresse como um direito ao museu. O direito à memória, o direito ao patrimônio e o direito ao museu precisam ser conquistados, mantidos e exercidos como direitos de cidadania, direitos que precisam ser democratizados.

Nesse sentido, pode-se compreender que a demanda por “+ Direito à Memória” apresentada na I Conferência Nacional de Cultura implica o reconhecimento de que os museus — lugares de lembrança e de esquecimento — constituem direito de todos os cidadãos, e que não basta garantir o acesso às ilhas de memória (e de esquecimento) já existentes e constituídas por grupos dominantes; é preciso democratizar e garantir o direito aos meios de produção da memória, aos processos de transformação, criação e salvaguarda dos suportes de memória.

Para lidar com a memória, no entanto, é preciso abandonar a perspectiva ingênua. A memória é inseparável do esquecimento, ela não é um bem em si mesmo, não expressa a verdade, não constitui um saber científico e tanto pode servir para aprisionar e tiranizar, quanto para transformar e libertar as energias da vida social, política e cultural. Assim, é fundamental desnaturalizar a relação com a memória e perguntar: a serviço de quem está essa idéia? A memória está a serviço de quem?

É possível trabalhar com a memória visando apenas a manutenção e a conservação de núcleos, ilhas e grupos de dominação econômica e política; mas é igualmente possível acionar o poder libertador da memória e criar novos planos de consistência, novas perspectivas, novos pontos de fuga criativa, novas máquinas de guerra colocadas a favor do “empoderamento” social daqueles que historicamente foram subalternizados e expropriados do direito de construir e narrar suas próprias histórias, suas memórias, seus patrimônios e seus museus.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O lugar da comunidade no museu: Uma troca de serviços (Hugues de Varine/2007)

Apresentei essa intervenção no Congresso anual das associações de museus italianos, organizado pelo Comitê Italiano do ICOM, em Verona. O tema desse congresso era "Profissionais e voluntários nos museus italianos". Pareceu-me interessante ampliar a noção de voluntariado em diferentes maneiras de participar da vida do museu, além da noção tradicional de « amigos dos museus » .

O museu, como instituição cultural, está situado num dado território (uma cidade, uma aldeia, um quarteirão), no seio de uma comunidade humana complexa. Ainda que o museu não seja a única expressão cultural desse único território, ele faz parte de seu equipamento cultural e representa necessariamente um papel nas dimensões cultural, social e econômica de seu desenvolvimento.

Portanto, é indispensável, qualquer que seja a natureza, os objetivos e as missões do museu, se preocupar com o lugar que a comunidade, quer dizer, o conjunto de cidadãos tomados individual e coletivamente, ocupa no museu.


Proponho considerar três modos de participação dos cidadãos na vida do museu estabelecido em seu território e pesquisar em cada um como uma troca pode ser feita para que a instituição museu, seus profissionais e seus cidadãos voluntários encontrem benefícios numa cooperação.


Naturalmente seria preciso estudar mais detalhadamente as diferentes categorias de museus e de territórios, mas cada um adaptará ao seu caso específico.

1. A prática mais comum é a da visita desejada, escolhida pelos habitantes do próprio território onde se situa o museu (não falo aqui de públicos cativos, grupos escolares ou da terceira idade e naturalmente ainda menos dos visitantes de fora, turistas). Esses visitantes individuais locais são o que os anglo-saxões chamam de « patrões », cuja iniciativa é mais marcada e pessoal que a que chamamos de « grande público ». Eles vêm buscar um conhecimento ou um prazer mais próximo deles.

Em troca, uma tal prova de interesse da parte da população local pode encorajar museólogos e autoridades locais a dar mais importância à maneira como esses visitantes reagem à exposição, às atividades de animação etc. Pesquisas de satisfação, a constituição de perfis da população - alvo, devidamente consultada –( suas reações, opiniões e sua maneira de ver sobre um ou mais temas,políticos, comerciais ou culturais), antes e depois das exposições temporárias, a criação de atividades específicas ou assinaturas ou vantagens /descontos –(cartões permitindo várias entradas ou gratuidade durante todo a ano para visitantes habituais) fazem parte de uma boa política de cooperação com o público local. Esses visitantes particularmente motivados são também mediadores úteis de comunicação, pois eles acreditam no museu.

2 – Encontramos em seguida o que poderíamos chamar, de modo genérico, « os amigos do museu », essas pessoas generosas, apaixonadas, dinâmicas, que propõem seus serviços a um museu que os agrada. Trabalham ou agem para um museu existente ou para um projeto de museu, por uma exposição, uma oficina sobre o patrimônio etc. Eles fazem isso tanto por gosto profissional quanto pelo sentido de responsabilidade social. Podem grupar-se em associações ou propor seus serviços individualmente, podem também aceitar a participação nos órgãos de gestão do museu (conselhos de administração, board of trustees) ou de coleções (conselhos de aquisição). Em todo caso, eles se põem a serviço dos profissionais que se responsabilizam pelo museu.

Os voluntários trazem ali competências, meios e influência. As competências podem ser de gestão, científicas ou saberes técnicos. Os meios podem ser financeiros (cotizações, garantias de empréstimos, ou financiamentos diretos de trabalhos ou de exposições, materiais (objetos ou documentos, empréstimos de coleções para exposições), em tempo disponível (para trabalhos obscuros mas necessários). A influência decorre das redes de conhecimentos de amigos do museu e do peso que representam na sociedade.

Em troca desses aportes ao museu que podem ser consideráveis, os amigos que são na realidade mecenas, recebem uma notoriedade social e uma satisfação moral e intelectual. Mas os museus podem também lhes trazer outras vantagens : um voluntário que quer ser eficaz deseja receber uma (in)formação específica, no domínio científico ou cultural ao qual pertence o museu, à ação cultural, ao conhecimento de públicos e das diferentes funções do museu. Ele pode também se beneficiar de uma ajuda para a gestão de seu próprio patrimônio (conservação preventiva, constituição de coleções pessoais, conselhos científicos). Pode trazer vantagens dos serviços do museu a seus familiares e amigos ou sua empresa.

Os responsáveis do museu têm interesse em sempre procurar os meios de equilibrar os termos da troca que deve se estabelecer entre o museu, eles mesmos e os voluntários : estes últimos serão tanto mais « devotados » e úteis quanto terão a certeza de tirar um proveito pessoal e coletivo de sua ação a serviço do museu.

3 – Enfim, existe uma categoria relativamente nova de voluntários a serviço do patrimônio e das instituições que, como os museus, se responsabilizam pelo território.Trata-se de pessoas que, no seio de sua comunidade de pertencimento, são promotores e atores do que se poderia chamar de uma “política endógena do patrimônio” . Em suma, desde os anos 60 e 70, um número crescente de museus ou instituições patrimoniais são o fruto de iniciativas comunitárias, freqüentemente conduzidas por uma personalidade carismática ou por um grupo de líderes, mas associando um grande número de membros da comunidade, tanto para a concepção quanto para a decisão, o aporte de meios, a realização e a animação. Mesmo quando a autoridade local (municipalidade ou outra coletividade pública) está geralmente implicada e quando o mais freqüente o reconhecimento dos responsáveis regionais ou nacionais pelo patrimônio e pelos museus é solicitado, a iniciativa, a decisão e a gestão pertencem no todo ou em parte a voluntários saídos do território. Não se trata nem de “públicos” nem de “amigos”, mas de cidadãos que fazem seu museu.

Naturalmente, todo projeto relativamente importante e que quer se tornar profissional deve se dotar de uma equipe de museólogos, museógrafos, técnicos e animadores qualificados, mas essas pessoas estão a serviço de um projeto comunitário que não foi iniciado por eles, o que inverte completamente a relação interpessoal.

Em termos de trocas, esses voluntários que são essencialmente militantes do patrimônio se consideram participantes de um processo mais global de desenvolvimento de seu território, trazendo-lhe um novo instrumento de conhecimento ,de valorização, de proteção de um patrimônio comum, com uma finalidade de transmissão, de transformação, de acolhida/ recepção. È preciso formá-los no que alguns na América chamam de museologia popular (Québec) ou comunitária (México). É também o que forma o essencial da « nova museologia » que agora se espalha por todos os continentes.

Tudo o que acabamos de ver repousa sobre uma constatação extremamente importante : no ambiente territorial e humano do museu e, mais geralmente, do patrimônio, existem competências e energias que podem e, na minha opinião devem, ser inventariadas, mobilizadas e colocadas em ação para o museu.

- Há competências profissionais : que se trata de sábios e eruditos, técnicos, gestores, professores ou animadores, especialistas do turismo ou do comércio, existe habitualmente na população quantidades de expertise utilizáveis, com a condição de identificá-las e adaptá-las às necessidades do museu. Cada visitante, cada « amigo » é potencialmente um conselheiro, um participante, um animador do museu.

- menos (re)conhecido é o conceito de “competência de uso”. Esta é freqüentemente utilizada pelos etnógrafos e pelos sociólogos em seus estudos e pesquisas. Ela não o é sempre como seria preciso no museu nem pelos agentes de desenvolvimento e pelos responsáveis políticos. Trata-se, entenda-se bem, da “ expertise” (experiência, saber qualificado ) sobre o passado ligada à memória individual dos habitantes e também de conhecimentos herdados ou vividos em matéria de patrimônio imaterial para os museus históricos, industriais, etnográficos. Mas são mais práticas saídas da vida cotidiana, no território, no seio da comunidade, da família, etc. : a utilização do espaço, as linguagens dos diferentes grupos sociais, os ritmos sociais, profissionais, escolares, as preocupações mais urgentes da comunidade. Essa competência de uso pode se tornar o capital social do museu e de seus profissionais, desde que se lhe reconheçam o valor e a utilidade, tanto para a constituição, estudo e manutenção das coleções quanto para o sucesso das manifestações e recepção do público. Existem métodos que exigem da parte dos profissionais uma imersão real e permanente no tecido social do território e uma atenção aos testemunhos, provocados ou não, que podem lhes ser dados pelos mais modestos dos habitantes.

- quanto às energias, sabemos todos que existem em cada comunidade, desde que sejamos capazes de fazer compreender o valor e o potencial de um projeto como o de um museu. Aí também, é preciso proceder com método, no respeito à cultura viva das populações e concordando com elas sobre a consideração que merecem.

O museu, como instituição cultural, dedicada ao patrimônio comum, não pode existir verdadeira e culturalmente « fora do solo », como se diz de certas culturas alimentares que crescem em estruturas inteiramente artificiais com os adubos igualmente artificiais. Tal museu seria um simples lugar comercial de consumo e de lazer, ou uma instituição de ciência pura. Para continuar cultural, ele deve estar enraizado num terreno humano e se nutrir da cultura viva da comunidade envolvente.

O museu comunitário é herético? ( Hugues de Varine)

Inquietações amplamente compartilhadas

Várias comunicações recentes recebidas de amigos e de correspondentes em vários países colocam questões relativas à dificuldade de fazer reconhecer os « novos museus », ecomuseus, museus comunitários, museus de território, pelas instâncias administrativas e pelos meios profissionais. Parece que a utilização do nome « museu » pelos promotores de projetos locais de desenvolvimento e de ação comunitária associando território, população, patrimônio, é contestada por várias razões , explícitas ou implícitas :

- o desrespeito aos princípios tradicionais da museologia ;

- particularmente, a menor atenção dada à coleção permanente, à pesquisa acadêmica e à conservação ;

- a modéstia e mesmo a pobreza técnica e científica das exposições e manifestações culturais organizadas pelo museu ;

- a ausência de qualificação profissional reconhecida dos responsáveis e dos colaboradores desses museus, que são freqüentemente autodidatas em museologia e museografia ;

- uma confusão com outras realidades ou conceitos , como os centros de interpretação, os parques naturais, os sítios históricos, certos lugares de interesse turístico e parques temáticos.



A ação levada há anos pelo MINOM ( Movimento Internacional da Nova Museologia) para defender, no seio do ICOM ( Conselho Internacional de Museus), a causa desses museus de um novo tipo( nem tão novo, pois remonta aos anos 60 !) não são aparentemente suficientes para ultrapassar as reticências da parte do que se pode chamar de « establishment » dos museus. A trilha recentemente aberta para definir as palavras-chaves do vocabulário da nova museologia, se é indispensável para a credibilidade internacional do movimento, ficará num nível intelectual superior e não responderá aos atores do terreno que se interessam menos à semântica e mais às suas relações cotidianas com as populações, as autoridades locais e os outros museus.

Um dos aspectos do problema é, sem dúvida, que estamos diante de duas categorias de pessoas bem distintas : de um lado, museólogos qualificados, confirmados, integrados nos sistemas técnico-administrativos organizados e conscientes de sua legitimidade ; de outro lado, pessoas que poderíamos chamar de militantes do patrimônio, enraizados em comunidades locais, sem qualificação formal adaptada , mas vivendo e trabalhando em simbiose com a população de seu território de pertencimento. Essas duas catregorias não falam a mesma linguagem, ainda que a matéria prima de referência, o patrimônio, seja fundamentalmente o mesmo. A utilização da palavra « museu » é legítima nos dois casos ? A palavra está realmente adaptada ao trabalho de nível comunitário, mesmo quando sua prática se afasta das trilhas construídas e quando a inovação saída da base leva a encurtar caminhos ou a questionar certezas ?

Em suma, estamos diante de uma doutrina ortodoxa de valor universal, levada por museólogos reconhecidos e certos de seu direito em conflito com as iniciativas heréticas, diversas, não controladas, desrespeitosas dos dogmas estabelecidos, promovidas por perigosos amadores associados a alguns profissionais marginais ( ou talvez subversivos) ? Parece que as tentativas de recuperação têm chegado , em certos países, a uma submissão dos novos museus ao modelo oficial : um artigo recente num jornal francês descrevia de modo exato a evolução dos ecomuseus e sua absorção progressiva numa corporação de « museus de sociedade » que acaba por fazê-los desaparecer numa massa confusa de pequenos museus de antropologia, de folclore, de patrimônio industrial, sem vínculo comunitário real. Aliás, os novos museus, comunitários ou territoriais, tentam se organizar em redes, como no México , e convencer as autoridades e o meio profissional de aceitá-los como são, como no Brasil.

Creio que é urgente lançar um novo debate, a partir de experiências acabadas ou em curso, num período de dez, vinte, trinta anos ou mais. Esse debate não deve ser teórico, mas colocar problemas concretos, vividos pelos atores locais e isto com palavras simples, facilmente compreensíveis em diferentes línguas.

O patrimônio

Todo museu é uma instituição do patrimônio, mas de qual patrimônio se trata ? Isso ninguém define a priori. Supõe-se que a noção de patrimônio esteja integrada por todos.Tentemos ir mais longe.

Para um museu tradicional e seu museólogo-conservador, o patrimônio é composto dos objetos que fazem ou farão parte da coleção do museu e , sem dúvida, também dos objetos que se encontram fora e cuja importância científica,artística ou cultural justifica que sejam considerados no programa museológico ou cultural, seja ele temático,disciplinar ou generalista. Pouco importa que um objeto tenha ou não un vínculo com a população atual do território onde se situa o museu. Na realidade, o patrimônio desse museu é definido pelo museólogo conservador de acordo com seu saber científico, seu gosto estético e seus interesses culturais, considerando-se naturalmente missões confiadas ao museu pelos parceiros exteriores( Estado, associação, mecenas,etc.). O valor e a raridade desse patrimônio justificam a missão de conservação que é atribuída ao museu, antes de qualquer outra missão de difusão ou de educação.

Para o museu comunitário ( ou ecomuseu ou ainda o museu territorial, na medida em que eles sejam realmente comunitários), trata-se do patrimônio reconhecido como tal pela comunidade e por seus membros. É o capital cultural coletivo da comunidade, ele é vivo, evolutivo, em permanente criação. Os responsáveis do museu utilizarão esse capital para atividades inscritas na dimensão cultural do desenvolvimento do território e da comunidade. A conservação é uma responsabilidade e uma tarefa coletiva da comunidade, os profissionais do museu sendo essencialmente apoio técnico e científico.

Vê-se bem por esses dois parágrafos , na verdade, simplificadores, que a definição do patrimônio é uma das fontes da incompreensão manifestada pelos museólogos oficiais com relação aos « amadores » dos museus comunitários. As palavras nâo têm o mesmo sentido e não inspiram as mesmas dinâmicas e as mesmas iniciativas/ abordagens. O fosso se aprofunda quando se passa da noção de patrimônio para a de coleção.

A coleção

Um testemunho pessoal : em maio de 1972, eu apresentava em Dijon, diante de participantes do seminário internacional organizado pelo ICOM para uma definição de ecomuseu ( termo criado no ano anterior durante a Conferência geral do ICOM), o anteprojetodo que viria a ser o Museu do Homem e da Indústria da Comunidade Urbana Le Creusot- Montceau ( chamado ecomuseu a partir de 1974). Eu exprimia então uma das hipóteses que formulávamos na época, no seio do pequeno grupo de promotores desse museu : em princípio, não desejávamos constituir coleções permanentes, pois pensávamos que o patrimônio do território e de seus habitantes constituiria o equivalente a uma coleção. Então, Jean Chatelain, diretor dos museus da França e vice- presidente do ICOM, reagiu de forma contundente : « não pode haver museu sem coleção ». No seu espírito de jurista, uma coleção de museu era necessariamente a propriedade inalienável do museu ou da coletividade que a tutelava. Para nós, tratava-se de uma espécie de propriedade moral da comunidade sobre seu patrimônio coletivo, o museu comunitário agindo como mediador pela valorização social, educativa, cultural, econômica dessa coleção-patrimônio.

Já, vários anos antes, quando John Kinard criou o Anacostia Neighborhood Museum, em Washington ( DC , USA ) , não procurou organizá-lo em torno de uma coleção. Ao contrário, privilegiou as exposições temáticas ligadas às preocupações essenciais da comunidade afro-americana do bairro de Anacostia.

Mesmo que muitos museus comunitários, ecomuseus ou outros acabaram por possuir coleções de objetos e documentos, ou ainda edifícios de interesse histórico, antropológico ou técnico, essa apropriação não foi nunca o objetivo primordial e eles a aceitaram como parte do processo, estando a aquisição ligada à necessidade, à oportunidade , à oferta de membros da comunidade. Mas, no museu comunitário, o objeto, o local, o monumento, o documento devem tanto quanto possível ter vida própria , o que significa implicitamente que sua entrada numa coleção no sentido da museologia oficial acaba por fazê-los morrer, fazendo-os congelar para sempre, subtraídos dos riscos da vida. Se nós pensarmos, por analogia, no domínio das ciências da vida, que se chamavam outrora as ciências « naturais », estamos aqui numa relação dialética entre a vontade de preservar a biodiversidade, portanto, a vida das próprias espécies, e o desejo de entronizar os últimos espécimes dessas espécies nas coleções ditas « naturalizadas ». A primeira iniciativa é política, a segunda é científica.

Essa questão da coleção é então um primeiro campo de conflito entre museólogos e ecomuseólogos. Ela é, sem dúvida, de modo mais ou menos inconsciente, o primeiro obstáculo à integração do museu comunitário no seio da corporação museal. O museu normal, qualquer que seja sua definição, é feito com as coisas, o museu comunitário é feito com as pessoas. O patrimônio comunitário é o patrimônio do pai de família, nâo é o tesouro de Harpagon.

O território e a comunidade

Outra questão delicada : o museu oficial só é responsável pela sua coleção e seu público. Mesmo se a coleção é mais ou menos representativa de um dado território, no caso de um museu de sítio, departamental ou de parque natural, o essencial da atividade museal está centrada nas coleções. Quanto aos públicos, pouco importa que venham do território ambiente ( escolares, por exemplo ), são apenas públicos, portanto, consumidores e de forma alguma constituem uma população, um conjunto de atores, partes integrantes do museu sob todos seus aspectos.

Uma prova : a exposição, seja permanente ou temporária, fala a linguagem do museólogo, também chamado conservador e não a linguagem da população.Será preciso , no melhor caso, engajar um tradutor, nomeado mediador, para decifrar a linguagem de um aos outros. O trabalho do museu se passa, na sua maior parte , nos bastidores , entre profissionais e técnicos, só o produto final ( a exposição) sendo apresentado ao público.

O museu comunitário, ou o ecomuseu, ou o museu de território procede de outra forma : poara ser representativo, sem entretanto repousar sobre uma coleção, ele deve emanar do território e de sua população. Seu trabalho se faz em pleno dia, associando a cada instante tal e tal elemento do patrimônio, tal e tal habitante ou grupo de habitantes : é o que chamo de processo ecomuseal , que é essencialmente cooperativo. A composição do público das exposições importa pouco, pois a atividade pública do museu corresponde à totalidade e à globalidade do seu processo. Poderá haver púnlicos identificáveis, grupos escolares ou turistas por exemplo, mas eles serão apenas um produto derivado da atividade principal, pois tal museu não tem visitantes , mas habitantes.

Esta outra dimensão fundamental da função ecomuseal quase não pode ser compreendida pelos museólogos de tradição : nós não estamos no mesmo espaço-tempo nem na mesma lógica sócio-política. De uma parte, o museu comunitário trabalha para o presente e para o futuro de um território e de uma comunidade a partir de seu próprio patrimônio, enquanto o museu clássico preserva e valoriza « bens » culturais e naturais, únicos ou típicos, reconhecidos como importantes por razões científicas. De outra parte, o objetivo do primeiro é o desenvolvimento sustentável da comunidade e do território ; o do segundo é o desenvolvimento do conhecimento e uma comunicação cultural global.

É preciso então recusar de chamar museu o projeto que trabalhamos ? Afinal, o fundo patrimonial é o mesmo, trata-se bem de mostrar, educar, valorizar. O interesse geral é mais nítido no museu comunitário, mesmo se a estrutura institucional é mais frágil e menos organizada. A leitura que fazemos da definição do ICOM me parece inteiramente aceitável em lingüística, ainda que substituamos público por população. Mas todos os museus tradicionais não afirmam procurar atrair novos públicos : seu objetivo seria, no entanto, atingido, se eles servissem efetivamente de maneira privilegiada 100% da população do território que os cerca.

O pessoal

É indispensável deter um diploma superior em museologia para criar,animar, dirigir um museu ? Sim, sem dúvida, para os museus tradicionais, sobretudo quando os regulamentos nacionais ou locais o impõem. Assinale-se, porém, que a instituição museal nasceu bem antes da disciplina especializada chamada museologia e também que , ainda atualmente, o que G H Rivière chamava a disciplina de base predomina frequentemente no curriculum vitae de um responsável de museu. Mas esses museólogos altamente qualificados, com algumas exceções, se consagram profissionalmente a perenizar fórmulas institucionais estabelecidas, excluindo toda inovação que poderia fazer a instituição sair da norma e fazer correr riscos seu diretor.

É divertido constatar que as pessoas que mais fizeram evoluir a idéia de museu há quarenta anos, até fazer nascer o movimento da nova museologia, pertencem ou pertenceram a profissões muito variadas, porém muito raramente à profissão museal. Georges Henri Rivière era um músico que se tornou etnólogo autodidata ; o Museu Nacional de Niamey foi fundado nos anos 60 por um desenhista de arqueologia, Pablo Toucet ; o Neighborhood Museum de Anacostia é obra de um pastor, John Kinard ; o primeiro diretor do Ecomuseu do Creusot- Montceau era um colecionador de arte moderna, Marcel Évrard, assistido por um médico radiologista hospitalar, Joseph Lyonnet ; o do ecomuseu municipal de Seixal (Portugal) era professor, Antonio Nabais, assim como Odalice Priosti, uma das dinamizadoras e inspiradoras do ecomuseu de Santa Cruz ( Brasil).

Poderia multiplicar os exemplos, ainda que haja também personalidades excepcionais do mundo dos museus que inovaram como Mario Vasquez ( México), Jon Gjestrum (Noruega), Lourdes Horta (Brasil) ou V.H. Bedekar (India). Notemos também a influência de universitários que sustentaram o movimento da ecomuseologia, às vezes se comprometendo mesmo nele diretamente como Pierre Mayrand (Canada), Per-Uno Agren (Suécia) ou Maurizio Maggi (Italia).

Menciono aqui apenas alguns nomes, como exemplos da diversidade de origens profissionais e de pertencimentos geográficos. Todos têm ou tiveram qualificações elevadas nos seus domínios de origem. Mas é preciso, para ser justo, descrever as equipes que tornaram possíveis essas inovações ecomuseológicas : compostas de pessoas frequentemente menos diplomadas e que se formaram, elas sim, no mutirão. Frequentemente voluntárias, às vezes engajadas sob estatutos precários e pouco valorizados, foram levadas a adquirir uma formação técnica e científica no decorrer do processo ecomuseológico no qual eram atores. Nos anos 80, Maude Céré ( Canadá) dava aulas de museologia popular nas aldeias de Québec. O ecomuseu do Creusot- Montceau fez seus técnicos seguirem cursos universitários que os levaram no mínimo ao mestrado. E naturalmente os voluntários foram obrigados a participar de estágios e seminários de qualificação profissional, por exemplo , para aprenderem a guiar os visitantes ou grupos escolares.

Confrontada a tal "perigo", a corporação de museólogos universitários e institucionais se mobiliza para preservar seus interesses materiais e morais e os departamentos universitários de museologia reivindicam o monopólio da qualificação profissional ( exceto na França onde esta pertence à Escola do Patrimônio). Essas reivindicações protecionistas, às vezes apoiadas sobre regulamentações oficiais, nacionais e locais, pretendem se impor igualmente ao que é inovador em museologia, mas também aos setores como a mediação cultural no sentido mais forte e mais exigente. E essa atitude é ainda mais fortemente expressa, no caso dos voluntários, que são considerados apenas amadores. No caso dos museus oficiais, são habitualmente confinados nos cargos das associações de Amigos, ou aceitos como mecenas, uma outra forma de público privilegiado.

De qualquer maneira, atualmente, não creio que exista no mundo uma só formação universitária dedicada à museologia comunitária, permitindo a membros das comunidades locais de adquirir um reconhecimento oficial de sua qualificação. Os museus comunitários mexicanos lançaram há quatro anos seminários profissionais para as Américas. Numerosos promotores de ecomuseus são obrigados a cursar museologia clássica para obter um diploma que lhes daria uma legitimidade no meio profissional. Um número crescente de formações universitárias, reconhecendo a vertente portadora da nova museologia, introduzem seqü^encias ou intervenções sobre esse assunto, para uma boa informação dos estudantes ; existe mesmo uma formação em « museologia social » em Lisboa.

Mas isso não basta. Com efeito, é necessário criar um programa de formação completo, adaptado, falando a linguagem das comunidades e não apenas a dos universitários. Tem-se necessidade de uma museologia popular, que possa dar conta não apenas dos museus identificados como tais, mas também e talvez sobretudo o conjunto de processos saídos da museologia comunitária, e indo até o desenvolvimento local , à educação popular. A formação teria por objeto a capacitação, um neologismo inspirado do espanhol e do português, diferente da qualificação que faz referência aos diplomas universitários e /ou profissionais que se dirigem a futuros museólogos clássicos.

Essa capacitação poderia seguir os seguintes princípios :

- a formação teórica e técnica seria reservada a pessoas que já possuem uma experiência de museografia local aplicada, qualquer que seja sua formação anterior ;

- a formação seria dada alternadamente , ancorada na prática do terreno como parte integrante do curso , cuja aquisição profissional seja avaliada , valorizada e validadas no curso ;

- compreenderia períodos de estágio em outros sítios para estender a experiência e compreender o caráter único de cada projeto, assim como para encorajar a formação de redes de solidariedade e de trocas ;

- Haveria uma hierarquia de diplomas ( para os franceses, certificats) , para incitar e permitir uma promoção profissional( de simples auxiliar voluntário a diretor de uma estrutura comunitária) e eventualmente uma especialização técnica ( conservação, inventário, mediação etc) ao longo da vida ;

- O conteúdo do programa de formação seria adaptado ao perfil médio das pessoas a formar, por exemplo : voluntários, profissionais empregados em tempo integral numa outra posição ( professor...) , experiências profissionais anteriores etc ; é preciso com efeito ter em conta as aquisições formais ou informais bem como a disponibilidade e os ritmos da aprendizagem próprias a essas diferentes categorias ;

- A formação abordaria as matérias próprias da museologia- museografia, domínios complementares obrigatórios : ação comunitária, pedagogia, desenvolvimento local, ecologia natural e humana, sociologia, psicologia... ;

- O equivalente de um trabalho de memória indispensável à validação de cada nível de formação deveria ser a formulação, a discussão e a realização de um projeto concreto novo ( uma exposição, um trabalho de inventário, un museu, uma antena, uma ação comunitária pretexto etc.), mas sobretudo não um trabalho clássico universitário ;

Cada pessoa formada se beneficiaria de um tutor, mais antigo em experiêncoia e em vontade para essa responsabilidade ( noção de solidariedade profissional) .

Esse programa de formação deveria ser levado ou ao menos acompanhado, pelo departamento de extensão ou de educação de adultos de uma grande universidade federal que daria a legitimidade indispensável à certificação final.

A exposição

As práticas contemporâneas dos museus tradicionais são cada vez mais sofisticadas Apela-se para as técnicas « modernas » , após o audio-visual, a multimídia e agora a informática , o que afasta cada vez mais o visitante do objeto e da realidade, para colocá-lo na situação de espectador de um produto mais ou menos virtual que se inspira em programas ou jogos informáticos. Tudo isso custa cada vez mais caro e coloca o museu na dependência de seus financiadores, Estado, coletividades locais, mecenas . Além disso, chega-se a um tipo de concorrência entre grandes museus, que procuram atrair os turistas pelos temas espetaculares de exposições temporárias ou pelo gigantismo das exposições permanentes. E quem terá o maior museu , em número de obras , em metros quadrados abertos ao público.

Os museus comunitários não têm os meios nem, sobretudo, o desejo de recorrer a esses métodos que parecem manipular o público. Eles se dirigem às mesmas pessoas que os criaram e que supervisionaram a sua instalação. É preciso então fazer a exposição voltar à simplicidade de suas origens : o objeto fala, ou questiona , ou intriga, é portador de uma massa de informações que cada um descreverá à sua moda, com ou sem a ajuda de um mediador. Talvez seja mesmo preciso, na linha certa dos princípios do trabalho comunitário, questionar o conceito de exposição, como o discurso de objetos colocados numa certa ordem e num espaço arranjado para esse fim. Quando o patrimônio do museu comunitário é repartido sobre todo o território e até nas casas dos habitantes ou nos lugares de produção, não é sempre possível nem desejável retirar os elementos de seu lugar para recolocá-los num ambiente estéril que se chamaria de sala de exposição. Já se reconheceram frequentemente os itinerários de observação, com ou sem instrumentos de interpretação como exposições a céu aberto ; é o mesmo para a visita de espaços de atividades sociais ou econômicas saídas do patrimônio reconhecido como tal pela comunidade. Alguns pensam mesmo que as manifestações públicas do tipo vigílias ou desfiles podem ter um caráter museográfico, evidentemente em função de suas motivações e da qualidade de sua realização : os membros da comunidade são aí autores-atores- espectadores e a ação por si mesma entra no registro do patrimônio imaterial.

Isso significa o reconhecimento da existência de uma verdadeira museografia do território, onde a comunidade e seus membros representam ao mesmo tempo o papel de atores e o de espectadores. Os museógrafos, no sentido habitual do termo, os cenógrafos, os cientistas não têm aí senão um lugar secundário, como assistentes da realização. É evidentemente difícil admitir isso aos profissionais qualificados dos museus, conscientes de sua missão civilizadora. E isso necessita de uma reflexão aprofundada de todos os parceiros e atores dos museus comunitários, principalmente sobre a natureza do objeto ou da coisa real, como dizia Duncan Cameron desde 1970. Estamos bem longe da noção de coleção, de exposição de objetos possuídos ou emprestados, em função de uma pesquisa feita por especialistas. Seria isto também uma heresia ?

A organização

O museu « normal » é uma instituição que nasce de uma decisão político-administrativa e que existe desde o dia de sua inauguração. Sua gestação se faz no segredo dos trabalhos científicos e técnicos, dos projetos de campanhas de comunicação, dos orçamentos plurianuais, dos procedimentos de recrutamento etc

O novo museu e mais ainda o museu comunitário na sua forma mais inovadora, não segue um procedimento, mas, como já se viu, ele é um processo. Seu objetivo não é a instituição nem uma inauguração ; ele é a co- construção , na comunidade e sobre seu território pelos membros da comunidade e as pessoas mais ou menos qualificadas que os ajudam, de um instrumento de desenvolvimento a partir de um patrimônio global identificado por seus detentores.

Isso significa que não existe modelo organizacional proprio do novo museu.Seus promotores devem, acada desafio, inventar estatutos e modos de funcionamento, de recrutamento , de financiamento, tendo em conta as condições locais, pessoas disponíveis ( ou a hostilidade de outras...) Os administradores chevronnés( encabestrados ) não podem compreendê-lo ou bem, se eles aceitam uma inovação, eles a aplicarão sem discernimento. Assim, nos primeiros anos do ecomuseu Le Creusot- Montceau, num movimento de utopia e de tomada de consciência das circunstâncias locais, tínhamos inventado um estatuto associativo muito complexo e mesmo complicado, que se apoiava sobre três colegas igualmente representados no conselho de administração : os usuários ( os membros da comunidade), os técnicos e cientistas, os gestores( ou financiadores). Esse sistema, idealmente equilibrado, nunca funcionou verdadeiramente, pois era muito pesado para funcionar e concluía com um grande número de reuniões sem resultados verdadeiros. Ora, no momento em que ele abandonara de fato o ecomuseu, a Direção dos Museus de França ditava a norma para todos os ecomuseus existentes e aos que estão por vir.

É indispensável prever , nos regulamentos públicos, como nos ensinamentos universitários e nos de museologia comunitária, um setor não normatizado, aberto à inovação institucional, permitindo uma evolução flexível das estruturas, ao sabor da vida natural do processo de gestação e de desenvolvimento do museu. O próprio nome do projeto deve poder ser mudado, prestes a abandonar o qualificativo de museu , se este não é compreendido ou não é mais conveniente e se a nova denominação convém mais à população. Isso vai certamente ao encontro das tradições administrativas e profissionais, onde o estatuto e o nome , portanto a forma, podem parecer mais importantes que o conteúdo. Mas é um bom exemplo da necessidade de uma museologia comunitária e popular, liberta ao menos de uma parte dos embaraços/ dificuldades herdados do mundo museal institucional.

A organização do museu comunitário deve de qualquer maneira repousar sobre métodos de gestão completamente diferentes dos dos museus oficiais. Esses últimos recebem meios financeiros mais ou menos satisfatórios da parte dos poderes públicos, obtêm complementos dos recursos de mecenas, sponsors, amigos, produzem suas próprias receitas por atividades comerciais cada vez mais desenvolvidas ( especialmente direitos de entrada, publicações,restauração, butique, manifestações de apoio). Os museus comunitários, por seu caráter de processo, devem nascer e sobreviver dos recursos da comunidade, essencialmente não-monetários.

Só atividades pontuais poderão ser financiadas por créditos públicos, a serem negociados amargamente. A independência do museu e seu caráter comunitário custam esse preço. Isso significa uma museografia pobre, participativa, eventual, que não pode repousar sobre numerosas pessoas assalariadas e altamente qualificadas, o que evidentemente é pouco compatível com uma museologia oficial cada vez mais luxuosa, consumidora de técnicas sempre muito mais exigentes.

O museu comunitário, ato político

E chegamos finalmente ao que é mais repreensível no museu comunitário, aos olhos do mundo dos museólogos profissionais : ele mostra convicto e sem complexos sua vocação política, pois quer ser um instrumento de desenvolvimento do território e da participação da comunidade e de seu patrimônio nesse desenvolvimento.

Odalice Priosti apresentou à mesa de discussões da nova museologia( durante o III Encontro de Ecomuseus e Museus Comunitários , no Rio de Janeiro, em setembro de 2004) o conceito de museologia da libertação, por extensão dos princípios da teologia latinoamericana da libertação por um lado e por referência à educação como prática da liberdade ( Paulo Freire). Nessa abordagem, claramente política no sentido mais nobre da palavra, trata-se de utilizar o museu e a educação patrimonial para conscientizar os membros das comunidades, torná-los capazes de autonomia e de iniciativa, prepará-los para uma participação dinâmica no desenvolvimento de seu território e em geral na vida pública.

Estamos aí muito longe da vocação essencialmente científica e cultural, políticamente neutra, dos museus tradicionais, grandes ou pequenos, que gerenciam suas coleções em prol de seus conservadores e de seus públicos, de uma maneira totalmente desconectada do contexto social e econômico que os envolve. A lembrança mais forte que conservei de minha passagem no ICOM foi o dia do Seminário de Santiago do Chile em maio de 1972, onde Jorge Henry Hardoy, especialista argentino da história da urbanização na América Latina, revelou a doze diretores dos maiores museus desse continente a realidade social e humana das metrópoles nas quais esses museus se situavam. O choque foi tanto sobre os museólogos que eles criaram no seu campo o conceito de « museu integral » que foi uma das palavras fundadoras da nova museologia. Entretanto, vinte anos mais tarde num outro seminário da UNESCO , em Caracas, constatou-se que as recomendações de Santiago continuavam letra morta, com exceção de algumas tentativas no México, como a da Casa del Museo.

São atualmente os museus comunitários, ecomuseus e outros museus de território que retomam, aprofundam e aplicam os princípios formulados em Santiago, à margem do sistema museológico oficial. Certamente, isso os leva a correr riscos , o do compromisso militante sobre os temas de natureza política, o de tomadas de posição sobre as apostas da sociedade, o de revelar patrimônios desconhecidos ou ameaçados, enfim o de parecerem « heréticos ». Mas esse é o preço a pagar para avançar na via do reconhecimento do patrimônio como recurso fundamental do desenvolvimento local.

Conclusão

Tudo o que foi dito pode parecer um exagero a alguns, ou radical, mas creio que reflete o sentimento de numerosos militantes da nova museologia que trabalham em projetos sobre esse campo, no contato com comunidades e territórios. Isso pode traduzir também a perplexidade de estudantes de museologia ou de patrimônio que têm dificuldade de se encontrar nos debates frequentemente confusos, onde as palavras pronunciadas por cada um não têm o mesmo sentido para os que as pronunciam e ainda têm outros significados para os que as ouvem. Creio realmente que a trajetória atual da nova museologia ( no sentido de museologia enraizada nas comunidades) diverge fortemente da museologia oficial.

É preciso então condenar o uso da palavra museu de um lado e de outro. Isso seria uma tentativa burocrática. Deixemos evoluir o termo, cujos avatares sucessivos, de toda maneira, têm pouco a ver com o Mouseion de Alexandria e admitamos que ele possa ter formas diferentes, em função de objetivos igualmente diferentes.

Porém, prossigamos o debate entre pessoas de boa vontade e continuemos a observar o que se passa nas comunidades e a tirar disso os ensinamentos.

(trad.OMP- março/2005)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Terceira Reunião - Rede Museus, Memória e Movimentos Sociais

Apresentação


Mario Chagas - DEMU

Marlucia - Centro de Referência Patrimonial e Histórica da Memória de Caxias

Fátima - CEPEMHED

Aline – DA Museologia

Ludmila – DA Museologia

Rafael – Doutor em Ciência Política – foi convidado pelo Carlinhos e o pessoal do CEASM. Morou na África do Sul, e atualmente participa de uma Rede de Museus de Consciência pelo mundo que tem como objetivo o intercâmbio de instituições e o compartilhamento de informações. Agora tem tido mais contato com o mundo dos museus por conta dessa Rede.

Doca – Museus de Arte de Cabo Frio

Mário – Esta será a terceira reunião da Rede que estamos tecendo, e o objetivo é propiciar o intercâmbio, disseminar as informações. A Rede está dentro da área de atuação do DEMU

Na segunda reunião nós identificamos a necessidade de oficinas, e o Márcio já esteve em Caxias e deu a oficina de Plano Museológico.


Marcio Rangel – Foi ótima a oficina. Tinham umas trinta pessoas, começamos de manhã e quase fomos expulsos do local por causa do horário. As pessoas puderam falar de suas experiências, de suas necessidades, foi muito interessante.

Marlucia – Apresentação sobre a Rede de Memória e História de Duque de Caxias e Baixada Fluminense.

Apresentação sobre o XVI Congresso Nacional de Museus – Morgana.

Tema: Museus, Memória e Movimentos Sociais.


Apresentação do Programa Mais Cultura e do PAC da Cultura - Mário Chagas
Apresentação sobre Museus, Educação e Movimentos Sociais.

Mais do que democratizar o acesso aos museus, é preciso democratizar a ferramenta museu.

Reinicio da Apresentação dos Participantes

Luiz Antônio – CEASM

Gisele Morim – Barra Mansa – Divulga a música sertaneja, dança, a catira, folia de reis, tem aula de dança, violão, viola. Faz parte do Conselho Cultural do Município de Barra Mansa.

Roberto –Associação dos Sertanejos de Barra Mansa e Região

Beatriz Paiva – Museu da Comlurb – É a nova diretora, quem tinha ido às outras reuniões era a Patrícia Coimbra, e distribuiu folhetos de divulgação.

Luiz Fortunato – Borel, Salgueiro, Chácara do Céu, e da ONG Roda Viva, que atende a 600 crianças. (Convidado a apresentar trabalho na próxima reunião)

Marko Andrade – Nós queremos implantar um Ponto de Cultura
Namai Mendes - Cantora
Bruno Monteiro – Cama Setorial de Artes Visuais – Eu vi na sua fala vários aspectos que nós discutimos lá, varias coisas muito pertinentes. O Álvaro disse pra eu vir, participar da reunião, que ele achou que tinha a ver. Eu quero estar presente no Fórum. A memória é um ponto fundamental para pensarmos um país melhor.

Álvaro Maciel – Dia oito, nos pilotis do Palácio Gustavo Capanema, no segundo andar, é a abertura da Mostra Projéteis de Arte Contemporânea. É arte contemporânea, mas de qualquer maneira uma coisa está ligada à outra, nada é isolado. No Chapéu Mangueira e na Babilônia, nosso desafio é levar a mensagem da cultura. Várias entidades se organizam para atentar para essa necessidade.

Waldemir – ABM – Estamos com um projeto junto com o pessoal de Caxias. O objetivo é garantir o direito à memória e o direito ao trabalho também. O objetivo desse projeto é discutir o acesso à educação, saúde e cultura.

Rita – ABM – Coordenadora do projeto que trabalha a inclusão social através da fotografia

Viviane – Bolsista da Mirian Sepúlveda e trabalha no projeto do Ecomuseu da Ilha Grande

Sérgio Noronha – Museus da RFFFSA – Barão de Mauá, estação Leopoldina. Estamos recuperando o acervo da ferrovia que está se perdendo. O prédio foi abandonado pela Supervia. A gente briga para trazer a tona essas questões de preservação, levar cursos de restauração, nós temos o espaço. Nós temos um projeto de fazer o percurso cultural dos museus de São Cristóvão. Temos auditório, recursos, etc, podemos disponibilizar.

Rafael – pesquisador – projeto de cooperação Brasil / África do Sul – Estava em contato com o Carlinhos e com o Museu da Maré, estavam estabelecendo uma parceria. Uma das propostas é esse projeto dos Museus de Consciência por vários países. Vocês podem entrar no site, é:

http://www.sitesofconscience.org/

Keila Cristina – ARCA

Andréa Garcia – Centro Cultural da Justiça Federal

Mauricio Fabiano – Sociólogo – Ação da Cidadania – o Centro Cultural Ação da Cidadania é uma ação criada pelos comitês de voluntários que são os espaços de leitura. A nossa luta é pelo acesso à cultura, contra o analfabetismo e pela educação de qualidade – isso tudo junto gera cidadania.

Ludmila – DA Museologia

Aline - DA Museologia - é muito interessante estar aqui nesta reunião porque nós temos o “rebanho”, temos os alunos, as pessoas para trabalhar. Acho que muitos alunos se interessariam em participar das atividades.

Mariana – Estagiária do DEMU

Lucas – Estagiário do DEMU

Maria do Socorro - Arca – Duque de Caxias

Dolores Tavares – Museu de Arte Sacra de Cabo Frio – Minha presença aqui é por conta da descaracterização cultural que sofre Cabo Frio. A nossa questão agora é tentar salvar o que resta da nossa região. Ainda tem muita coisa, beleza natural, a ser preservada. Queria convidá-los a ir lá, apresentar trabalho lá.

A idéia é que o museu seja um pólo de difusão cultural. A Marlucia diz que é só marcar.

Eu queria perguntar com relação ao Conselho Municipal de Cultura. Lá existe um conselho, mas muitas vezes é manipulado pela secretaria, por questões políticas, e os segmentos da cultura ficam de fora. Queria dar a sugestão da participação deles.

Marina – Arquiteta do DEMU
Marcio Rangel – Ministrou a oficina em Caxias

Marisa – Lembra ao Mário da conversa com a arqueóloga sobre o sambaqui

Antônio Augusto – Caxias - A discussão do Conselho é muito presente lá.

Mario Chagas – Acho que ano que vem poderemos fazer o roteiro

Marlucia – A gente divide tudo, faz uma “vaquinha”, sai mais barato pra cada um.

Fátima – Duque de Caxias – professora do município, trabalho com centro de pesquisa.

Marlucia – Centro de Referencia de Duque de Caxias e Rede

Joana D´ Arc – Professora da Unirio – Militante do Tortura Nunca Mais, tese de doutorado sobre a chacina de Vigário Geral. Agora trabalha com políticas de preservação da memória da ditadura militar. A gente está pensando em memória lá no Tortura Nunca Mais. Agora o espaço Niemeyer cedeu um local. Além da prática, nós estamos vendo questões teóricas interessantes.

Marlucia – Deixo um pedido de oficina de museografia, nós queremos montar exposições, e precisamos da técnica.

Mario finaliza – temos o encontro em dezembro, em Recife. No começo do ano, programamos outra reunião se possível em Caxias. Podemos também preparar um conjunto de textos para ler e discutir, sobre movimentos sociais e teoria museológica.

Em Caxias podemos entrar numa discussão mais profunda.

Segunda Reunião da Rede Museus,Memória e movimentos sociais

Mario Chagas – Coordenador Técnico do DEMU - Estamos aqui hoje na mesa com Cícero Almeida do DEMU e Adolfo Samyn, que é presidente da ABM. Nós fizemos uma memória da reunião passada, vocês podem dar uma olhada para ter idéia do que aconteceu, é claro que o processo foi realizado sem gravador, portanto é só um registro que dê conta do que aconteceu.

Na reunião de hoje nós pensamos em começar pela proposta do Museu da Maré. Quando eles chegarem, terão alguns minutos para apresentar. Alem disso pretendemos avançar em alguns pontos:

Pensamos em uma formação para as pessoas que trabalham com movimentos sociais. Não se trata de uma formação acadêmica, mas sim de oficinas, cursos, etc. Um trabalho que aproxime Ministério da Cultura - MinC, a universidade, os movimentos sociais, sempre buscando pessoas que possam facilitar a realização dessas oficinas. Então hoje a pauta é: Ouvir a maré, discutir a questão da capacitação, e que também tenhamos um espaço de reflexão sobre o que estamos realizando, e posteriormente pensar em um seminário, além do que foi previsto na reunião anterior, a troca de experiências entre as pessoas.

Iniciamos então as apresentações:

Marisa Rosário – Duque da Caxias

Cecília coelho –

Isaias Bruno - Presidente da Associação de Moradores do Morro da Babilônia no Leme e professor do Ensino Fundamental

Ana Araújo- jornalista do Viva Rio, tem um site Viva Favela que fala sobre comunidade

Joana – Pesquisadora do Museu Casa do Pontal

Joana - Produção cultural e desenvolvimento institucional

Gabriela – Programação visual e artista plástica

Fabiano – D.A. de museologia

Adolfo - ABM

Luiz Antonio - Museu da Maré, formado em história

Claudia – Museu da Maré e professora de história

Nira - COB

Fernanda - Revista Bienarte

Cristina Arruda - Professora de jornalismo da Faculdade Helio Alonso e Mestre pelo Mestrado em Memória Social e Documento Unirio

Tânia Amaro - Diretora do Instituto de História de Duque de Caxias, Centro de Referência de Historia da Baixada Fluminense

Antonio Augusto Brás - Associação de Amigos e Núcleo Histórico de Duque de Caxias

Ana Paula - Casarão Cultural dos Prazeres - ele é um casarão que já foi várias coisas, estava em ruínas e a pedido dos moradores dos Prazeres, foi revitalizado e hoje em dia tem aulas de artes, entre outras oficinas

Marlucia - do Centro de Referencia de Duque de Caxias e Professora de História e pesquisadora sobra temas da Baixada Fluminense

Márcia - Centro de Pesquisa Memória e Historia de Duque de Caxias

Marina - Arquiteta do DEMU

Cícero - Museólogo do DEMU e professor da Unirio

fim da apresentação

Mario Chagas - passamos agora à apresentação de experiência da maré.

Antes disso tenho uma proposta: Nós fomos a Petrópolis, e tivemos um encontro com o governador Sergio Cabral, e mencionamos essa reunião. Aquele foi um encontro tranqüilo e pudemos relatar algumas experiências. O curioso foi a reação do governador. Ele solicitou uma agenda com as comunidades, ele quer encontrar as comunidades, pensamos em construir uma agenda para maio ou para junho, para que ocorram visitas às comunidades, a algumas articulações podem surgir daí. Ele sinalizou que gostaria de fazer esse roteiro e nós podemos auxiliar. Se houver sensibilização para esse trabalho, pra nós é o que interessa. Se ele quiser se aliar a esse projeto, pra nós não tem problema, poderá ser bom.


APRESENTAÇÃO DO MUSEU DA MARÉ


Mario Chagas - Depois da apresentação da Maré, algumas considerações:

O museu da maré não é um museu histórico, não tem essas configurações. O acervo é interessante porque quer contar uma história, eles procuraram em arquivos, e solicitaram a participação dos moradores.

Acho que ficou clara a possibilidade de intercâmbio, eles podem receber e enviar exposições, trocar experiências e serviços, de exposição por exemplo. O museu do pontal vai receber a exposição da Maré. O MNBA também, a Babilônia também poderia fazer, isso estimula o debate. Eles não mostraram, mas quando o Museu foi inaugurado, o pior preconceito foi visto. Os jornais falavam que estavam glamurizando os traficantes, que era coisa do PT, que estava incentivando as favelas. E não tinha nada a ver com PT. Tem o apoio do MinC sim, mas aconteceria de qualquer forma, independente do governo. Hoje em dia o Museu esta aí.

Bom, podemos ver quem se dispõe a participar da formação, quem quer receber, quem quer ministrar, receber oficinas, os grupos podem intercambiar as propostas, os representantes da unirio, e outras pessoas, a Marcele que está chegando da Rede de Educadores de Museus, o Luiz Antonio da ABM, o Julio Mourão da Funarte, Marco Andrade que é musico do Panela de Pressão e poeta, o pessoal do Museu da Pessoa.

A idéia é falar que cursos e oficinas podem ser dados, depois o seminário e as parcerias.


-quem???? - No ano passado nós fizemos uma proposta de curso pra Caxias, o pessoal da Favela Hype, e a gente pensou em fazer um curso, nós temos o espaço físico, elaboração de projetos, organização de exposição.

Joana - No pontal nos dias 13 e 14 de abril, nós teremos seminários sobre o tema “Histórias do Cotidiano”, voltada para educadores. Em junho tem “A arte Popular e Universos Populares”. A gente vai lançar um caderno de restauro em arte popular. Não é exatamente um manual, mas é a nossa experiência, e esse caderno poderia gerar outras atividades. Ele será lançado em agosto e distribuído parceria com a Unesco,

Mário Chagas – mesmo quando o museu é criado sem acervo, o acervo vem com o tempo. E o que fazer com isso? É uma questão prática.

Joana – as pessoas tem desejos, idéias, mas falta pessoas com perfil que tenham acesso aos mecanismos de fomento, etc. Por isso a idéia de um curo sobre elaboração de projetos. Posso me dispor a dar a oficina de projetos. Enquanto demanda, a gente pensa muito na área da comunicação, e trabalhamos com as comunidades perto, com mamulengos, música, e a gente quer aprender mais sobre suporte digital.

Mario – o Pontal disponibiliza os seminários que já acontecerão, é só agendar os grupos. A partir de setembro, alem do caderno de conservação, poderiam ser ministradas oficinas nesse sentido, e também oficina de elaboração de projetos. E gostariam de uma palestra ou oficina de comunicação digital.

Álvaro Maciel - Nós fazemos parte de um projeto, a Benedita inclusive fez um trabalho lá, dona Agostinha disponibiliza um galpão. Nossa dificuldade é essa nova tecnologia museal, porque a preservação da memória tem que ser praticada cotidianamente, tudo foi feito no braço, sem projeto e sem verba. O jovem é voluntário e acaba indo embora, e a gente fica com projetos, mas sem pessoas pra trabalhar. Tem uma rádio comunitária, uma rede de computadores, mas é difícil sem um projeto que banque. Para mobilizar a comunidade, seria legal ter cursos e palestras.

Presidente - parabeniza o trabalho da Maré, e tem afinidades, a gente construiu o jornal a voz da comunidade, mas são projetos isolados e a historia está lá, é preciso desenvolver. A gente precisa de ajuda. Nós temos o espaço e poderíamos receber cursos. O prédio esta lá. Tanto para área de memória e museu como também na capacitação do jovem interessado, para que ele possa desenvolver esse trabalho. Estamos abertos a receber, tem que pegar as lideranças e levar lá.

Gabriela Bota a Cara / UNE – nós temos um grupo de trabalho que oferece oficina de grafite – bota a cara – também de programação visual, etc.

Antonio Augusto – a luta é pela defesa do patrimônio, e por conta disso tem um congresso regional de professores e pesquisadores da baixada. O grupo discute as políticas de proteção do patrimônio , historia, memória, fazemos um convite direto a vocês. Nós temos os trabalhos de campo, e vamos a vários lugares da baixada dependendo do interesse do estudo. Se a gente arruma uma condução, a gente pode ir às comunidades, montamos um roteiro de atividades.

Marlucia Museu Vivo - Nós temos alguns roteiros, para discutir meio ambiente, ou sambaqui, patrimônio tombado, favela, etc. roteiro do museu vivo de xerém e museu vivo de são bento. Nós também fazemos pegando os caminhos do ouro, que tem vestígios do período colonial e desperta interesse na preservação desse patrimônio.

Vamos organizar uma ida, escolher a data, conseguir o ônibus, e fazemos esse roteiro

Marlucia - Temos 200 professores fazendo curso.

Joana – seria legal fazer seminário, juntar isso em um seminário itinerante,e cada comunidade receberia uma parte do seminário.

Mario – a idéia das visitas, pode ser assim. A próxima reunião poderia ser em outro lugar, temos só que estudar as viabilidades. O seminário ambulante é legal

Cuca –o movimento de memória do movimento estudantil, e agora cm o cuca, já temos a preocupação com o acervo, e agora vi sair a exposição, a nossa experiência ainda é muito embrionária, a gente quer aprender, com as outras experiências, tudo que é relacionado com projetos,... o que temos pra oferecer nós temos técnica de montagem de espetáculos, uma oficina bem pratica, de montagem de exposição.
Nira – no outro encontro eu falei da visita ao pavãozinho, nós levamos a exposição de fotos e atletas, e ex-atletas, foi muito legal. Quando acabou, a Alessandra de Guaxindiba falou que pediu para as crianças desenharem uma praça ideal, e todas desenharam algo com esporte. Ai nós pensamos em levar uma exposição que fale dos valores olímpicos, a maioria dos atletas e o publico são de comunidades, depois dos jogos eu me comprometo em realizar algo desse tipo. Agora eu estou enrolada com o PAN

Cecília a de Caxias – temos 15 anos, trabalhamos sempre por conta própria, e difícil,mas temos avançado. Nós trabalhamos com exposições e temos dificuldades técnicas. Trabalhamos também com a questão acadêmica, de formar professores. Outro ponto e o ensino de historia, aconteceu em Seropédica, do congresso foi tirado o tema baixada fluminense comunidade e cultura. Por exemplo. E historias da baixada, tem patrimônio, te grupos de capoeira, bumba meu boi, e sempre muito pesado, de varias universidades publicas e particulares, o necessário pra nos e sabe fazer projetos e mudar a cara das nossas exposições. também alguém para cuidar do acervo.
Mário – essa ida a Caxias poderia ser para maio. É um mês delicado, mas se possível poderia ser na semana dos museus, mas como muitas pessoas viajam, pode ser que fique difícil. O Cícero fica responsável por isso. Nos faríamos uma oficina em Caxias, com 1 ou 2 pessoas para elaboração de projetos. Temos muita gente q trabalha com isso, uma oficina pratica, formulário, orçamento, etc. isso seria para junho. Iniciamos com essa e depois vamos crescendo. O museu da pessoa podia tentar suprir essa demanda de comunicação digital.

Márcia - Cento de memória e historia da educação gostaria de sugerir um adendo de como montar exposições permanente.
Museu da pessoa –museu virtual de historia de vida, já e uma rede internacional, mas surgiu no Brasil. Memórias temáticas de imigrantes, tem projetos q a gente faz a pesquisa, com historia ora. Brasil memória em rede. Essa metodologia de memória oral, no mp, esta disponível na Internet, tem guias no site, de projetos em comunidades, Brasil memória em rede, desde 2004 uma rede de memória enquanto instrumento de desenvolvimento, memória da educação, instituição, etc. tem uma iniciativa edição do redescobrimento, a idéia e que se faca uma expedição a outras comunidades. E uma expedição que facão trocas de experiências, um fórum, que toque. – Brasil memória em rede – e legal de todos participarem, juntar as duas redes.

Marta – eu represento os alunos de museologia e sugiro que nos podemos contribuir na questão técnica, acho q muitos alunos se interessariam.

Com relação a comunicação digital, tem um projeto no chapéu mangueira, registra depoimentos orais dos moradores, e isso fica guardado. Eu trouxe um projeto de audiovisual dentro do Chapéu Mangueira que seria interessante. O mec também oferece oficinas um radio comunitária, a facha e onde se oferece as oficinas em época de férias – botafogo – eu enquanto pessoa tenho uma disciplina de documentação, de construção de documentos, metodologia, eu me ofereço, se você precisa de alguém que fale de documento inclusive audiovisual.


1 – organizar a visita em Caxias, em maio ou não

2 – organizar também em Caxias oficina de elaboração de projetos para junho

3 – conversar sobre comunicação com o Adolfo

4 – no 2 semestre um debate amplo sobre esse tema mm sociais, nos seriamos participantes e chamaríamos outras pessoas. Tem q ver a agenda, depois de setembro.

5 - o grupos

6- a agenda futura

Finalização
Precisamos verificar a agenda

Na ultima reunião foi informado – será lançado um edital especifico para pontos de cultura que trabalhem com memória. Pontos de cultura / demu. Possivelmente em maio ou junho. E uma área q o ministério percebeu que e uma iniciativa que deu certo.

A agenda nos vamos construir com o governador visitando as comunidades.

Agora vamos ao seminário e na agenda futura.

Adolfo – ABM – nós temos interesse em movimentos sociais, Waldemir, Rita, Luiz Antonio, etc. nos temos 5 membros da chapa que se candidata na próxima eleição. Nos acreditamos na apropriação da museologia como movimento. A ABM pode contribuir, e incorporar a rede ao sistema que já temos, nos cursos a gente tem perspectiva de criar cursos que atendam a necessidade particular de cada um dos espaços. Percebemos que tem uma concentração do rio de grande rio, e precisamos ampliar para outros lugares. A ABM se compromete a atender essa demanda de cursos, e todos podem se associar. Já temos um programa de cursos.



Seminário –

Fabiano – divulgar a oficina dia 28, 29 30 sobre museu memória e cidadania, podem se inscrever pelo e-mail.



Marcele – rede de educadores de museus- 70 profissionais e 24 instituições estamos abertos para contatos, e importante congregar a rede, nos temos profissionais que podem oferecer cursos, temos seminários para agosto, e o primeiro encontro da rede ,obj e tentar encontrar no interior, reunir os profissionais 20 e 30 de agosto, terão palestras, etc. a pagina vai ser lançada no dia. Os encontros mensais, e podemos contribuir na organização de vocês, nos temos uma trajetória com relação a rede. A estrutura já esta montada –REM – rede educadores de museus – retoma antigas iniciativas, agora se consolidou, ela coordena, reúne educadores de museus de vários lugares, fez trabalho de discussão de textos, e agora estão partindo para seminário, boa parte são professores, e eles são o publico



Marisa Caxias –sambaquis em Caxias q foram descobertos, a obra da washinton Luiz passou por cima e tem um são bento, nos pedimos para o governo, mas nada foi feito, estava abandonado, agora com esse curso que estamos fazendo sobra a historia de Caxias. Nos fomos lá e ficamos assustados com a destruição, tem vários barracos, um senhor esta loteando o terreno, esta sendo destruído. A idéia cada loja e 7 mil. Estamos querendo juntar o dinheiro para comprar os terrenos. A idéia e comprar e depois convidar os índios de Angra dos Reis para fazer uma oca para exposição, e chamar os arqueólogos para ir para lá. Estamos entregando um documento para entidades, buscando apoio.



Cícero – pensar para breve essa oficina sobre elaboração de projetos, e m demanda urgente

Mônica – cursos voltados especificamente para esse edital de memória dos pontos de cultura.

Cícero – não esta democratizado, alem dos projetos contemplados estarem do eixo rio são Paulo, se estabeleceu uma cadeia de profissionais de elaboração de projetos, e a lei rouanet acabou sendo usada como ferramenta das grandes empresas, os editais acabam suprindo a necessidade do local.

Mario – esses projetos não são divulgados. Os pontos de cultura ate q foram um pouco divulgado. Mas existe o casa Brasil do ministério de ciência e tecnologia que e o mesmo sistema dos pontos de cultura, tem que passar por ciência e tecnologia. Mas eles passam pelas ciências sociais.

Memória da reunião da Rede Museus, Memória e Movimentos Sociais - 23/01/2007

Inicio da Reunião

José do Nascimento Junior (diretor do Departamento de Museus e Centros Culturais do IPHAN) - O objetivo deste encontro é reunir pessoas que trabalham com movimentos sociais, visando o desenvolvimento de ações concretas no campo da memória, do patrimônio e dos museus e a criação de uma rede temática de grande capilaridade

Mário de Souza Chagas (Coordenador Técnico do Departamento de Museus e Centros Culturais IPHAN) - O museu é uma ferramenta, é um lápis ou um computador, não é um fim em si. Algumas pessoas ainda associam museus a grupos de elite, mas hoje existem museus com outros perfis, que se assumem como práticas sociais. Em nosso entendimento o museu pode contribuir para o desenvolvimento das comunidades populares e os movimentos sociais. Para isso a ferramenta museu precisa ser democratizada. Só assim, ela contribuirá para o enfrentamento das questões sociais contemporâneas, e para preservação da memória dos movimentos sociais.

No DEMU nós imaginamos a reunião de hoje da seguinte forma: cada uma das pessoas presentes se apresenta e fala um pouco do seu trabalho, da sua instituição, e depois passamos para a construção de uma agenda onde poderemos pensar em ações que promovam o intercâmbio com o coletivo. Assim, as pessoas vão se conhecendo e trocando experiências.

Apresentação dos participantes

Ângela Mascelani (Diretora da Casa do Pontal) - Para fazer proposta, as pessoas têm que se preparar para que a agenda aconteça efetivamente, além da idéia, é preciso que ela tenha como se viabilizar.

Mario Chagas - Teremos que fazer novas reuniões que progressivamente possibilitem um maior nível de organização. O objetivo é reunir as pessoas e ‘medir a temperatura’, ver o que as pessoas querem, quais são as necessidades.

Vânia (Museu de Folclore) - Devemos voltar às instituições com as propostas levantadas, e na próxima reunião, voltar com a resposta da instituição.

Patrícia Coimbra (Museu da Limpeza Urbana do Caju) - Lá no Caju nós já temos trabalhos voltados às comunidades, concordo que tenham outras reuniões para o surgimento de novas propostas.

José Luiz (SEBRAE / economia criativa) - Trabalho com o Museu da Maré, com artesãs, e na vila do João com resgate da cultura negra. Outra instituição é o centro de memória da Rocinha.

Joana D’ Arc (professora da Unirio, Programa de Pós Graduação em Memória Social) - A parceria é boa até para que surja uma futura linha de pesquisa.

Regina Abreu (Unirio) – O “Favela Tem Memória” foi ótimo porque as pessoas que não conheciam o trabalho de outros grupos passaram a se relacionar. A experiência do Museu da Maré tem mexido muito com muita gente, é preciso valorizar a memória dos lugares que costumam ser esquecidos. O que é importante deste encontro, é que nós da universidade queremos nos aproximar das comunidades, atuar junto aos movimentos sociais. Foi feito inclusive um curso de extensão em parceria com o DEMU, onde foram trabalhados temas concretos, a Ângela Mascelani com o tema “Gestão em Museus e as OSCIPs”, a Vera Tostes falou do MHN, e começamos a perceber que há um interesse das pessoas em aprender com a experiência alheia. No II Fórum Nacional de Museus, em Ouro Preto, teve um seminário que ensinava com enquadrar em Lei Rouanet, em fim, temos que levantar as necessidades técnicas, operacionais, procurar experiências bem sucedidas, os museus de favela tem um potencial enorme, esses são apenas alguns pontos.

Mauriléia (Condutores de Memória - Borel) - Nós trouxemos, inclusive panfletos do nosso projeto que levantamos a memória das favelas da grande Tijuca. A nossa proposta é modificar determinadas questões através da memória. O nosso projeto é criar um Centro de Memória de toda a Tijuca, não só favelas, diminuindo assim, as desigualdades.

Luiz Antonio (Museu da Maré) - A nossa proposta e caminhar com o grupo, o Museu da Maré quer se articular,tem vários parceiros aqui, a articulação cria tentáculos dentro e fora da maré, as atividades não ficam dentro das comunidades, extrapola para o entorno, Manguinhos, subúrbios, é uma via de mão dupla, e este é um caminho para que a vias se multipliquem.

Nira Lima (Museu Olímpico Brasileiro) - O Comitê Olímpico Brasileiro está trabalhando para criar o MOB- Museu Olímpico Brasileiro. Museu é uma ferramenta assim como o esporte. No Departamento Cultural do MOB, nós aproveitamos os eventos esportivos para levar palestras, seminários. O COB organiza um evento chamado olimpíadas escolares, em outras cidades descentralizadas, e foi interessante, o nosso departamento assumiu a parte cultural. Dessa forma a criança tem acesso ao objeto simbólico do esporte que ela pratica, para a criança isso é importante, principalmente uma exposição, um bate papo sobre cultura, o esporte como dimensão social e sociabilidade.

Mario Chagas - Este é um espaço de trocas múltiplas e diversas relações, por isso é importante a participação de diversas instâncias, governo, universidade, comunidade, empresas, organizações não governamentais, indivíduos, etc.

Leandro (MAC e Ponto de Cultura) - Trabalho com jovens envolvendo cinema e vídeo. Essa articulação da reunião de hoje é importante para se pensar uma Rede. Dentro do MAC nós temos um projeto com a comunidade do entorno e teremos um núcleo dentro das comunidades, eu trouxe folder do projeto Arte Ação Ambiental

Álvaro Maciel (morador do Morro da Babilônia, vizinha do Chapéu Mangueira) - A Maré é uma comunidade que está sendo muito falada hoje em dia, e o Chapéu Mangueira já foi assim, tem uma história tremendamente rica, o Che Guevara esteve lá em uma reunião secreta. É importante contar a história das favelas, já que ninguém fala disso, as ruas só tem nomes de general, etc. Na Babilônia eu era vice-presidente, nós temos um prédio lá com várias salas vazias que podem ser disponibilizadas para atividades, queremos ensinar aos jovens a ter esse amor, esse estímulo de preservação da sua história.

Denise Lima (Ação Comunitária do Brasil – Maré, Vila do João e Cidade Alta) - Trabalho com gastronomia, moda, marcenaria, serigrafia, etc. Nós temos um trabalho voltado para a cultura africana, grupos de berimbau, e então desenvolvemos a coreografia, os bailarinos dançaram com os bailarinos de Ruanda, isso valoriza o trabalho das comunidades.

Isaura Maciel (Fundação São Joaquim de Assistência Social) - Sem valorizar a memória o ser humano não pode ser educado, não chega à cidadania.

Marlúcia (Município de Duque de Caxias) - Ligada aos movimentos sociais, Associação de Moradores, etc. Começamos a estudar História e vimos que lá não se fala em história, o resgate da memória foi esquecido. A partir daí criamos uma Associação de Professores Pesquisadores que foram para o mestrado pesquisar sobra a historia da região, trabalhar com depoimentos de moradores, etc. e a rede começou a se ampliar. As memórias valorizadas costumavam ser ufanistas, elitistas, mas o movimento camponês, as comunidades, os centros de candomblé e umbanda, essas memórias orientam a nossa produção, mas não estavam na academia. O movimento foi crescendo e, durante uma greve, chegamos a pedir o tombamento de uma casa, que nós chamamos de Museu a Céu Aberto. Na região existem vestígios de homens de vários tempos diferentes, desde os sambaquis até as favelas, reunindo vários tempos e realidades. Nós queremos fazer trabalho de campo na Baixada Fluminense e aquelas áreas que tem relações com a gente. A gente sai de ônibus, visitando os lugares. A partir daí, surgiu a criação do Centro de Referência do Município de Duque de Caxias, que apesar de todos os problemas, estão acontecendo cursos, e agora em março vai ter exposição.

Regina Santiago (Diretora de Cultura do Município de Tanguá) - A gente veio pedir ajuda, buscar parcerias, e a gente quer resgatar a história e memória local, mas o trabalho ainda esta tímido por falta de recursos, nós queremos buscar parcerias, temos pouco acervo mas queremos ajuda para criar um Centro de Memória.

Cristina Bruno (Museu de Arqueologia e Etnologia- USP) - Nós temos diversos programas, meu interesse é como professora, eu ministro cursos extracurriculares de museologia popular. Eu tive uma oportunidade de um projeto de museu da cidade para são Paulo, com esse tipo de museologia.

Ruth (Condutores de Memória – Borel) - Queremos fazer trocas de experiência e queremos também criar um centro de memória

Lucas (Casa do Pontal ) - Há 10 anos temos atividades com escolas públicas do Rio de Janeiro e ultimamente, depois dos Pontos de Cultura, existe um desejo de trabalhar com as comunidades do entorno do Museu de forma contínua, vão surgindo questões interessantes como por exemplo a Folia de Reis, estimulando a sociedade local a querer voltar a fazer a Folia de Reis, que talvez volte esse ano. Também deixo um folder do Museu.

Vanilda Campos (Presidente da ONG IDIS – Instituto de Desenvolvimento e Inclusão Social) - Eu vim pedir socorro! Nós participamos de um edital e ganhamos - Casa Brasil, em Vigário Geral que trabalha com inclusão digital. Todos conhecem Vigário Geral, mas existem coisas que as pessoas não conhecem, como o Zezinho do Ouro, ele era bandido e hoje é empresário, tem empresas levando atividade para lá, mas a mídia não fala, a intenção da Casa Brasil é a qualificação, tem espaço de exposição, ginásio, etc.

Lucas (Museu Casa do Pontal) - O Museu tem projeto de exposição itinerante que circula junto com o projeto educativo. As inscrições estão abertas para agendar.

Ligia Segala (Laboratório de Educação Patrimonial UFF) - Nós percebemos que era recorrente como aprendemos a desaprender sobre a cultura brasileira... Cultura brasileira é o que mesmo?...Por isso acho importante a preservação. Abrimos cursos sobre patrimônio, memória, com vagas para outros alunos que não são da Universidade, e daí começam a acontecer projetos de diferentes áreas, projeto de extensão com o Museu de Arqueologia de Itaipu (DEMU/IPHAN) com museus de Niterói com um trabalho mais sistemático, também procuramos levar nossos alunos a outros lugares, casa de artistas, museus, bibliotecas, para que eles tenham uma formação mais larga. Também acolhemos exposições, seminários, um movimento circular, as informações entram e saem, uma vez por mês nós temos um acontecimento, nós temos alguns projetos em andamento em São Gonçalo, Guaxindiba, que trabalham com saberes tradicionais em área rural, saberes de construção em terra. Nós agora retomamos o Varal de Lembranças na Rocinha, que era do tempo que eu alfabetizava adultos lá, nós agora vamos tratar esse material e disponibilizar para consulta pública.

Ana Cristina (Mestrado Unirio, tese sobre a preservação da memória do Chapéu Mangueira) - A gente registra a narrativa dos idosos da comunidade em vídeo, e tem como objetivo mobilizar e promover a reflexão dos mais jovens. O Chapéu Mangueira é muito rico em histórias, tem um balcão de artes para crianças de 0 a 99 anos, que trabalham com argila, etc., e que favorece muito as idéias que estão sendo expostas aqui

Alessandra Norato (pedagoga Guaxindiba) - Eu vivi no bairro e agora eu vou às escolas e conto historias com um livro de tecido. Tivemos como resultado, um movimento de reivindicação de uma praça para o local, as crianças fizeram um abaixo assinado, os pais entraram. Mas precisamos de ajuda.

Joana D’Arc - A minha tese de doutorado foi sobre a Chacina de Vigário Geral e fiquei muitos anos lá, acompanhando o processo, morei lá, tenho jornais e muito material sobre o assunto.

Maristela Pessoa (Santa Teresa) - Trabalhamos com a ressignificação do objeto, discutindo a questão do consumo, do descarte, fizemos oficinas para terceira idade, recolhemos depoimentos, desenvolvemos trabalhos com a Jac Carrara, e trabalhamos com o SEBRAE, com artesãos, com o resgate da identidade, e por conta do SEBRAE, eu conheci algumas comunidades, a Maré, o Observatório das Favelas, eles tem um banco de imagem. O trabalho deles reverte a imagem que a sociedade tem de favela, deixando de ser só lugar de violência. Esse grupo aqui hoje, tem coisas em comum, podemos trocar experiências.

Nádia (Pesquisadora da Bulgária) - Faço doutorado em Nova York, estudei sobre os centros culturais em Cuba e agora faço uma pesquisa acadêmica sobre o Museu da Maré, e possivelmente vou comparar com o Museu a Céu Aberto da Providência.

Victor Chagas (jornalista Overmundo) - Overmundo é um site colaborativo, o maior site colaborativo do Brasil. O diferencial é que temos correspondentes voluntários ou regulares em todo os estados do Brasil, recebemos, por exemplo, o contato do MIS do Pará, para um projeto de restauração. O endereço é www.overmundo.com.br.

Claudia (tese doutorado Museu Imperial) - A proposta é de tratar a memória não só como memória institucionalizada, e também das comunidades.

Moana (Casa do Pontal - ciclo de pesquisa) - É importante trazer a sociedade para dentro do museu, e as pessoas terem uma noção maior sobre cultura popular.

Nascimento Júnior - Não existe projeto de nação sem projeto de memória. O museu é uma ferramenta, não para uso das elites. O museu deve constituir as memórias, não só as das elites.

Luiz Antônio (ABM) - As comunidades, as universidades, todos estão fazendo e discutindo memória independente do curso, a sociedade está se organizando e mostrando para o Estado que estão se desenvolvendo independente dele. A ABM não é só de museólogos, e não é só de museus e centros culturais. Não é a memória da favela, é a memória do povo, da ocupação urbana, memória do Brasil, a gente não pode desvincular. Está mais do que na hora das escolas começarem a desenvolver disciplinas sobre patrimônio cultural, e nas universidades, formar os profissionais para trabalharem nesse processo. As pessoas estão começando a formar as organizações. As pessoas tem o verbo mas não tem a verba. A rede facilita a busca desses recursos.

Morgana (estudante coordenadora do RENEMU) - Congrega os estudantes de museologia no Brasil. Nós nos colocamos a disposição, para ajudar, e incorporar essa linguagem dentro da universidade.

Mario Chagas - É importante esse rito inicial da apresentação. O objetivo a seguir é identificar alguns pontos, possibilidades de troca. Identificamos a necessidade de formação especifica para lidar com esse campo. Tudo indica que existe um acordo no sentido de marcarmos outras reuniões, consolidar a rede.

Valdemir (ABM) - O Museu da Resistência surgiu de um debate, sobre museologia e poder, eu tinha um pensamento radical, de que o museu tradicional não poderia servir à democratização, e o Mario dizia que era possível usar as brechas institucionais. O Museu da Resistência era sobre os movimentos de lutas pelas quais passou o Brasil. Não seria um museu, não seria um espaço físico. Seria um fórum, de debate de idéias, e depois chegamos à conclusão que seria uma rede. Atuamos em diversas frentes. Outro dia, o Mário me perguntou o que sobrou disso? Vocês têm registro? O registro não era o fundamental. O acervo do museu são idéias. Será possível atuar nas brechas? Sendo esta a rede como algo permanente, porque não, fazer um museu de idéias? Mantendo a individualidade das ações, mas ao mesmo tempo mantendo as interligações.

Regina Santiago (Município de Tinguá) - Existem implicações práticas para conseguir financiamento, escrever o projeto para enquadrar e conseguir liberação de recursos, e isso muitas vezes é uma dificuldade.

Lucas - É importante saber o que é o projeto. Não adianta ter a capitação de recursos. Tem que identificar corretamente o objeto.

Nira (COB) - O COB pode apoiar, participar levando esporte para a comunidade. Nós fomos procurados pelo Pavão Pavãozinho e Cantagalo e nós levamos uma exposição de fotos e também alguns atletas aposentados e atletas novos, foi importante para as crianças. Eu sempre aproveito para falar sobre o esporte brasileiro, me coloco a disposição de todos para ir as comunidades levando o esporte.

Nascimento Júnior - O MNBA trabalhou em conjunto com o Museu da Maré, vai levar uma exposição de Dijanira. O MOMA vai a maré em junho, então o MNBA tem que fazer isso antes.

Mário Chagas - É importante que as ações no local tenham um potencial multiplicador, que reúna outras pessoas. Nós temos uma rede de pessoas dispostas, que querem fazer, desenvolver, são capazes, e elas acreditam em um Brasil mais participativo.

Luiz Antonio (Maré) - Entrando na dinâmica da rede, quando a gente trabalha com museu, é um trabalho que lida com um espaço de visitação, mas no caso da Maré é um espaço de trabalho de memória, com arquivo, tem a situação do museu, mas existe um trabalho antes dele, além dos arquivo de fotos, vídeo, história oral, contação de história, entrevista com moradores antigos, exposições itinerantes. Essas trocas são anteriores e possibilitaram o surgimento o Museu.

Álvaro Maciel (Chapéu Mangueira) - Lá tem condições de a gente estabelecer um curso. Foram dois alunos de museologia e eu recebi eles na minha casa, dei melancia com abacate. Falta de verba. Quando nós falamos de projetos, existem de 50.000 mil na Petrobras, a gente não tem como articular isso por nós mesmos, tem que se adequar às ações, tem rádio comunitária, tem prédio com salas vazias, etc., mas temos que tirar o diagnóstico das comunidades.

Nascimento Júnior - É importante que outras comunidades também façam como a Maré. É fundamental multiplicar essa experiência, isso é o “Pontos de Cultura”. O importante é a sustentabilidade social, a Maré existe antes do “Ponto de Cultura”, antes do MinC. Mais importante do que sustentabilidade financeira, é a social. Nós podemos colocar um “link” na página do Sistema Brasileiro de Museus, para que todos os projetos sejam disponibilizados e assim possamos divulgar o que está acontecendo. A Revista Musas, que é de reflexão, podemos fazer um dossiê sobre essas experiências, sobre memórias populares. Quem tiver interesse em uma oficina de restauração de fotografia, nós podemos articular com a Funarte, já que a fotografia é a base muitas vezes de manutenção da memória. A Funarte tem boas oficinas que orientam como conservar o suporte do papel fotográfico de forma criativa, barata e eficiente. Esse momento é um momento de reflexão sobre o que nós já fizemos nesses quatro anos. O que nos estimula é trabalhar com a realidade múltipla, respeitando as características de cada lugar e de cada grupo. Com os Pontos de Cultura a gente já tem 30 museus, agora está na hora de fazer o processo inverso, abarcar as instituições populares.

Mario Chagas - Uma coisa importante, nós operamos com uma noção de desestímulo do gueto. Não se trata de estimular movimentos que queiram se guetificar, por que o gueto é auto destrutivo. Os grupos dominantes querem que os movimentos se tornem guetos, porque isso os enfraquece, fora da disputa geral, só resta a briga interna. Se existe preconceito com as favelas, também existe preconceito com os museus. Eles são vistos como instrumentos das elites. Mas fazem parte do nosso patrimônio, e nós temos direito a essa herança, a essa memória. O Museu não é um instrumento de um grupo social, é de quem lançar mão.

Carlinhos (Maré) - Nós temos trabalhos para fazer, estamos chamando o governo para diálogo, e as outras pessoas, na Maré as coisas deram certo porque tem abertura com o DEMU, tem dialogo com a comunidade, e agora a gente pode dar passos mais firmes. Gostaria de saudar a iniciativa.

Claudia Rose (Maré) - Essa é uma iniciativa que não para aqui, nós reunimos experiências com o ISER, com o Favela Tem Memória, o encontro foi positivo, mas essa proposta vai além da troca de experiência. A proposta é que vire uma Rede e que se desenvolva para além disso. A ferramenta como o lápis, o dia que não servir a gente joga fora, mas agora nos serve. O Carlinhos lembrou bem: têm universidade, governo, comunidades, mas faltou a iniciativa privada!

Nascimento Júnior - A reunião está formada, mas o trabalho de articulação e de mobilização continua.

Reunião realizada no Ed. Gustavo Capanema, Rio de Janeiro - RJ, em 23/01/2007.

Declaração de Quebec - Princípios de base de uma Nova Museologia - 1984

Introdução

Um movimento de nova museologia tem a sua primeira expressão pública e internacional em 1972 na “Mesa- Redonda de Santiago do Chile” organizada pelo ICOM. Este movimento afirma a função social do museu e o caráter global das suas intervenções.

Proposta

1. Consideração de ordem universal

A museologia deve procurar, num mundo contemporâneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento, estender suas atribuições e funções tradicionais de identificação, de conservação e de educação, a práticas mais vastas que estes objetivos, para melhor inserir sua ação naquelas ligadas ao meio humano e físico.

Para atingir este objetivo e integrar as populações na sua ação, a museologia utiliza-se cada vez mais da interdisciplinariedade, de métodos contemporâneos de comunicação comuns ao conjunto da ação cultural e igualmente dos meios de gestão moderna que integram os seus usuários.

Ao mesmo tempo que preserva os frutos materiais das civilizações passadas, e que protege aqueles que testemunham as aspirações e a tecnologia atual, a nova museologia – ecomuseologia, museologia comunitária e todas as outras formas de museologia ativa – interessa-se em primeiro lugar pelo desenvolvimento das populações, refletindo os princípios motores da sua evolução ao mesmo tempo que as associa aos projetos de futuro.

Este novo movimento põe-se decididamente ao serviço da imaginação criativa, do realismo construtivo e dos princípios humanitários definidos pela comunidade internacional. Torna-se, de certa forma, um dos meios possíveis de aproximação entre os povos, do seu conhecimento próprio e mútuo, do seu desenvolvimento cíclico e do seu desejo de criação fraterna de um mundo respeitador da sua riqueza intrínseca.

Neste sentido, este movimento, que deseja manifestar-se de uma forma global, tem preocupações de ordem científica, cultural, social e econômica.

Este movimento utiliza, entre outros, todos os recursos da museologia (coleta, conservação, investigação científica, restituição, difusão, criação), que transforma em instrumentos adaptados a cada meio e projetos específicos.

2. Tomada de posição

Verificando que mais de quinze anos de experiências de nova museologia – ecomuseologia, museologia comunitária e todas as outras formas de museologia ativa – pelo mundo foram um fator de desenvolvimento crítico das comunidades que adotaram este modo de gestão do seu futuro.

Verificando a necessidade sentida unanimemente pelos participantes nas diferentes mesas de reflexão e pelos intervenientes consultados, de acentuar os meios de reconhecimento deste movimento;

Verificando a vontade de criar as bases organizativas de uma reflexão comum e das experiências vividas em vários continentes;

Verificando o interesse em se dotar de um quadro de referência destinado a favorecer o funcionamento destas novas museologias e de articular em consequência os princípios e meios de ação;

Considerando que a teoria dos Ecomuseus e dos museus comunitários (museus de vizinhança, museus locais...) nasceu das experiências desenvolvidas em diversos meios durante mais de 15 anos.

É adotado o que se segue:

A - que a comunidade museal internacional seja convidada a reconhecer este movimento, a adotar e a aceitar todas as formas de museologia ativa na tipologia dos museus;

B - que tudo seja feito para que os poderes públicos reconheçam e ajudem a desenvolver as iniciativas locais que colocam em aplicação estes princípios;

C - que neste espírito, e no intuito de permitir o desenvolvimento e eficácia destas museologias, sejam criadas em estreita colaboração as seguintes estruturas permanentes:

• Um comitê internacional “Ecomuseus/ Museus comunitários” no quadro do ICOM (Conselho Internacional de Museus);

• Uma federação internacional da nova museologia que poderá ser associada ao ICOM e ao ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios), cuja sede provisória será no Canadá;

D - que seja formado um grupo de trabalho provisório cujas primeiras ações seriam: a organização das estruturas propostas, a formulação de objetivos, a aplicação de um plano trienal de encontros e de colaboração internacional.

Quebec, 12 de Outubro de 1984. Adotado pelo I Atelier Internacional

Ecomuseus/ Nova Museologia

Definição de Sociomuseologia( Mário Moutinho)

Definição evolutiva de Sociomuseologia - Proposta de reflexão.

Mário C. Moutinho

A Sociomuseologia traduz uma parte considerável do esforço de adequação das estruturas museológicas aos condicionalismos da sociedade contemporânea.

A abertura do museu ao meio e a sua relação orgânica com o contexto social que lhe dá vida, têm provocado a necessidade de elaborar e esclarecer relações, noções e conceitos que podem dar conta deste processo.

A Sociomuseologia constitui-se assim como uma área disciplinar de ensino, investigação e actuação que privilegia a articulação da museologia em particular com as áreas do conhecimento das Ciências Humanas, dos Estudo dos do Desenvolvimento, da Ciência de Serviços e do Planeamento do Território.

A abordagem multidisciplinar da Sociomuseologia visa consolidar o reconhecimento da museologia como recurso para o desenvolvimento sustentável da humanidade, assente na igualdade de oportunidades e na inclusão social e económica.

A Sociomuseologia assenta a sua intervenção social no património cultural e natural, tangível e intangível da humanidade.

O que caracteriza a Sociomuseologia não é propriamente a natureza dos seus pressupostos e dos seus objectivos, como acontece em outras áreas do conhecimento, mas a interdisciplinaridade com que apela a áreas do conhecimento perfeitamente consolidadas e as relaciona com a Museologia propriamente dita.

As preocupações fundamentais da Sociomuseologia há muito que se encontram descritas em numerosos documentos elaborados dentro e fora da Museologia.

A titulo de exemplo pode-se referir a Declaração de Santiago do Chile de 1972, a Declaração de Quebec (MINOM) 1984, a Convenção sobre a protecção e promoção da diversidade das expressões culturais (UNESCO), 2005, a Convenção para a salvaguarda do património imaterial (UNESCO) 2003, Convenção do Património Mundial, A Protecção do Património Mundial Cultural e Natural, UNESCO – Paris, 1972, Em todos este documentos aparece um traço de continuidade que indica claramente o alargamento das funções tradicionais da museologia e o papel que deverão assumir na sociedade contemporânea.


1- Entre essas preocupações deve ser referido o carácter global (planetário) dos problemas relacionados com a valorização e protecção do Património Cultural e Natural no quadro de uma visão nacional e internacional não só pela natureza dos problemas mas também pela necessidade de assentar politicas que ultrapassam os limites nacionais e afectam regiões ou em muitos casos dizem respeito ao próprio planeta no seu todo.

Este entendimento resulta em parte da necessidade de envolver recursos humanos, financeiros e legais científicos e técnicos que ultrapassam claramente a responsabilidade local ou nacional. (Convenção do Património Mundial, A Protecção do Património Mundial Cultural e Natural, UNESCO – Paris, 1972)

2- O reconhecimento que as questões do desenvolvimento também têm vindo a ser consideradas aos níveis local, nacional e internacional não só pela natureza das questões mas também pelo carácter alargado do princípio da sustentabilidade que obviamente não só ultrapassa as fronteiras como também exige soluções globalmente sustentáveis.

Neste contexto as soluções implicam abordagens multifacetadas e assentes no princípio da participação que não são específicas de um só grupo social mas que ao contrário assentam na participação e no compromisso individual e colectivo. Cultura e desenvolvimento são cada vez mais elementos de uma responsabilidade Social onde assenta a intervenção museal

3- Também é largamente reconhecido que todas as sociedades estão em permanente mudança pelo que a actuação dos museus deverá assentar nessa própria mudança sempre que procura deter um papel socialmente interveniente.

Que o museu é uma instituição a serviço da sociedade, da qual é parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formação da consciência das comunidades que ele serve; que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na acção, situando suas actividades em um quadro histórico que permita esclarecer os problemas atuais, isto é, ligando o passado ao presente, engajando se nas mudanças de estrutura em curso e provocando outras mudanças no interior de suas respectivas realidades nacionais; (Mesa Redonda de Santiago do Chile, ICOM, 1972)

4- Os museus são cada vez instituições entendidas como entidades prestadoras de serviços, pelo que necessitam crescentemente de envolver os conhecimentos das áreas da gestão da inovação, do marketing, do design e das novas tecnologias da informação e da comunicação. Estas áreas do conhecimento trazem para os museus factores de melhoramento da qualidade da relação dos Museus com os seus públicos e/ou utilizadores para a qual se aplicam as ferramentas de avaliação da qualidade.

Estas abordagens essenciais mas efectuadas parcelarmente encontram agora numa nova área de conhecimento geralmente denominada por Ciência de Serviços, Gestão e Engenharia. (SSME). Esta área propõe-se reunir e articular de forma consistente os trabalhos em curso no domínio da informática, da engenharia industrial, da estratégia empresarial, das ciências de administração, das ciências sociais e cognitivas e das ciências jurídicas de modo a desenvolver as competências requeridas por uma economia orientada e assente cada vez mais na produção e uso de serviços. Esta área do conhecimento visa o entendimento transversal de outras áreas que por si só atingiram um desenvolvimento considerável, mas que raramente são objecto de entendimento articulado e dialéctico.

Mais do que uma função propriamente técnica que resulta do entendimento do museu com uma instituição ao serviço dos objectos museológicos os Museus são cada vez mais entendidos como instituições prestadoras de serviços e neste sentido devendo ser compreendidas como qualquer outra actividade de Serviços. A museologia e os museus (no seio da economia dos serviços culturais) ocupam cada vez mais um lugar de destaque na economia dos serviços em geral, a qual representa actualmente 50 a 70% do PIB dos países mais desenvolvidos e um lugar crescente na maioria dos outros países.

5- A actuação dos recursos humanos envolvidos nas diversas e ampliadas funções dos museus carecem cada vez mais de formação aprofundada que ultrapassa as tradicionais formações técnicas que esgotam a actuações dos museus centrados exclusivamente sobre as suas colecções. As Curricula Guidelines for Professional Development actualmente em processo de revisão no seio do ICOM dão claramente conta multiplicidade dos campos de formação de modo a cobrir todas as áreas onde o Museu se afirma como áreas de trabalho. De forma resumida a Declaração do ICTOP de Lisboa 1994 já anunciava este novo processo de revisão da formação dos trabalhadores dos museus.

Os programas de formação museológica devem oferecer oportunidades de formação que visem o preenchimento das necessidades imediatas e das expectativas da comunidade museológica para muni-la de uma programação pró-activa em vez de uma instrução reactiva; (…),

Os programas de formação museológica devem preparar formandos, a todos os níveis, para desempenharem mais elevados papéis de liderança, estimulando a investigação intelectual, a interacção imaginativa, e soluções corajosas para aplicar a práticas e actividades museológicas, bem como transmitindo um senso de responsabilidade ética, profissional e social;

(Declaração de Lisboa, Resoluções da Comissão Internacional de Formação de Pessoal de Museus - ICTOP/Universidade Lusófona, 1994)

Esta proposta de definição da Sociomuseologia mais do que um puro exercício gramatical pretende na verdade chamar atenção para toda uma vasta área de preocupações, métodos e objectivos que dão cada vez mais sentido a uma museologia cujos limites não cessam de crescer. A visão restritiva da museologia como técnica de trabalho orientada para as coleções, tem dado lugar a um novo entender e práticas museológicas orientadas para o desenvolvimento da humanidade.

E é exactamente para esta realidade, fruto da articulação de áreas do saber que cresceram por vezes fora da museologia mas que progressivamente se tornaram recursos incontornáveis para o desenvolvimento da própria Museologia, que a definição de Sociomuseologia se revela poder ser um contributo que ajuda a compreender processos e definir novos limites.

Assim entendido a Sociomuseologia assume-se como uma nova área disciplinar que resulta da articulação entre a demais áreas do saber que contribuem para o processo museológico contemporâneo. Entre o paradigma do Museu ao serviço das colecções e o paradigma do Museu ao serviço da sociedade está o lugar da Sociomuseologia

Lisboa, Setembro 2007,XIII Atelier Internacional do MINOM, Lisboa Setúbal